quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

eu passarinho, que Piah

luz amarela, madeira maciça
aquarela me atiça
quintal envolto em verde e metal
pegadas felinas
carinho que mantém meu ventre quente
e dentro da casa, ela
garrafas de vidro com flores amarelas
bromélias
janela e cores no concreto entre trepadeiras
e a beira do orgasmo, eu
esse seu olhar me desconcerta
conecta
me dá um tom familiar
seus cabelos cobrindo o pescoço
a mandala no dorso
nos meus lábios os poros
salivo seu arrepio
o balançar da rede embala o beijo
ensejo... me apaixonar
e tudo pára
nossos corpos conversam em silêncio
a luz de velas... a tal da luz amarela
ao fundo a trilha sonora começa a tocar:
"no giz do gesto o jeito pronto"
só não desacreditei porque ali, não tinha como duvidar
parece que você veio pronta
parecia que a vida apontava você em mim
eu acho que eu já sabia
a magia não pode durar muito mais 
sentada no quintal, percebi que o tal do tempo brincou comigo
no seu abrigo construímos o "nós" em uma noite
ao acordar com a claridade e te ver ali, iluminada
a janela enfeitada
respirei fundo... bem fundo!
me despedi do seu mundo, lindo mundo particular
voltei a poltrona de rodas que me levou pra perto
beijei o felino que tanto carinho me fez
recebi seu cheiro e o abraço que me arrebatou
então parti no trem de prata
e libertei você pra outro amor
que me arrastou pra longe 
longe da história que eu construí
naquela noite
dentro de mim