domingo, 31 de julho de 2016

decoração de fragmentos

quantas amoras caem do pé e se vão?
recorto o tempo e dobro
macramé decoração
pra ver se enxerga o espaço tempo em branco
a olhar de frente o vazio do papel peito
vê se encontra todos os nós
pensando em entender
entendendo o passar
mas no momento do sentir
só resta receber e respirar
pra ver se vai
pra ver se vem
pra ver se tem silêncio
vento em música assovio
que me embalam os vôos
as notas doces são gentis
acarinham a pele amor
enquanto plano aqueço
quanto ao plano esqueço
raciocínio se esvai
eu só a sentir
deixo o parto parir um começo
de repente a gente aprende com o novo
fecha os olhos
sente o vento de mãos dadas com o sol
deita no colo da terra que abraça a grama verde
e deixa a alma aterrissar
deixa que vá
deixa o corpo em vôo
deixa pra lá
o que já deixou






sábado, 30 de julho de 2016

eu me calei
eu falei baixo
eu falei brando
eu disse
eu gritei
e você não ouviu meu grito de socorro
a cada esquina eu morro
a cada esquina chora Chica, Maria, chora Rita
tentei explicar pra você, rapaz
que de boa intenção o inferno tá cheio
minha feminilidade não te refere
o meu nú não te pertence
o meu corpo não te fere
o meu sexo não existe pra te servir
eu me mostro pra mim mesma
o seu "elogio" causa uma imensidão de atos
feito efeito dominó e cai sobre mim, sobre nós
sobre todas nós a cada passo
a rua também me pertence
eu sinto o que você sente
sou igual
entendeu não?
não trisca, não rela, não me Toque!
a menos que eu permita
a minha alma grita toda vez que uma mulher é violada
o feminismo não te odeia
o feminismo não te quer mal
o feminismo quer que morra toda essa cultura patriarcal
eu vivi até pouco numa prisão
com tantas mulheres aprendi que não preciso passar por humilhação
pelo que sou
pelo que sei
pela minha cor
pelo meu sexo
sexo frágil só na fragilidade da sua visão
ignora o movimento que eu faço no mundo
eu não te ameaço eu somo a tudo
e quando você some, sou eu que crio o novo mundo
com um pedaço do mundo dentro de mim
ainda sim consigo o sustento com suor do trabalho
a dor no pé na barriga
a barriga pesando as costas
enquanto nos olhos lágrimas
os seios jorrando leite
e eu limpando a sujeira que você deixou
enquanto você vai viver o mundo
eu crio um mundo inteiro dentro de mim
você não reconhece
a sociedade não reconhece
hoje reconheço a força que existe aqui
tenho uma legião de mulheres junto a mim
eu as reconheço, elas me reconhecem, nós reconhecemos na nossa luta
que há tantas décadas, apenas acabou de começar
.
minha eterna gratidão a todas as mulheres que me fazem sentir
que eu nunca estou sozinha





terça-feira, 19 de julho de 2016

quando o mundo invade a vida

já parti mil corações
já tive meu coração partido em mil pedaços
carrego um mundo inteiro dentro de mim
preciso deixar bagagens no caminho
mala pesada me faz caminhar a passos lentos
meus pés doem
o peito pesa ao vento leve que me toca
preciso içar a vela que me leva a navegar
só o chão já não me basta
minhas asas estão cansadas
recorro ao mar
as ondas que me poupam o corpo
a água que liberta meu espirito
o sol que aquece o meu cavalo
a passos largos caminho sobre o mar
vento leve sopra o furacão que me habita
dentro
tempo ajuste a minha mente ao presente
eu quero descansar o meu sentir
o mundo as vezes me dói
não quero mais minhas vestes cheias de poeiras passadas
vistas
tocadas
toco mil vidas com meus olhos
sinto mil mentes em meus sonhos
recebo respostas sem nem mesmo questionar
pára um pouco os ponteiros
eu que sempre fui ligeiro
hoje quero descansar
sigo cochichando ao pé do ouvido
do meu peito explodido
que precisa respirar
sem fumaça tóxica
sem informações excessivas
sem poluição sonora
tanta intensidade
sensitividade
intensa-idade
a sabedoria vai descansar
os ouvidos
o peito
o passo
o nó desatar
desabafar
desconectar
desacelerar
descriminar
em tudo pede ar
então respira
e deita
mergulha
levanta com fé e sonha
com um dia novo ao desafogar