terça-feira, 24 de janeiro de 2023

a cura


quando foi que uma parte sua morreu e eu não vi
quando foi que uma parte nossa se perdeu e eu não vi
quando foi que você com tanto ar, perdeu o fôlego
com toda sua pressa e minha calmaria
(eu não sou calma, mas as vezes sou lenta)

eu perdi os quase zero por cento de ar que tinha aqui dentro
o ar é a troca
a falta de ar é a distância 
e foi no vão
que corre tanto vento entre nós
que o ar se foi

ninguém vai chegar pra nos salvar
nem príncipes, nem princesas
nem cavalos e águias 
nem um parente distante e rico
nem um santo sentado, que roga ao lado pra nos proteger 
ninguém vai chegar se não nós mesmas
ninguém vai salvar o que não quer ser salvo
ninguém pode tocar a nossa alma sem que haja permissão

então permita-me
então permita-se 
chegarmos
e salvar-nos a nós mesmos
mesmo que cada um em um canto 

domingo, 18 de setembro de 2022

II

eu sinto
eu sinto
eu sinto muito
eu sinto tudo
por você e por mim
eu sinto o mundo
e lá no fundo
dói
dói
ói eu sinto

percebeu?

o mundo é gigante
existem mil além de nós
o mundo é gigante
existem milhares além de você
o mundo é gigante
existe um mundo além de mim

existe um tempo agora

e não para
não cala

e chora

o amor é doçura
o amor é loucura
o amor é luta
diária

eu penso
é denso
penso em você

eu penso
penso
penso em mim

de tanto pensar
e não encontrar
de tanto não te encontrar
penso em perdão
e penso em mim

de tanto pensar

eu penso
no fim.













sopra

vou compôr versinhos pequenos
para que sinta o gosto de cada letra
pra que leia devagar e não esqueça
o quanto te quero bem
sempre vou me lembrar a luz que traz o seu sorriso
suas mãos aguçando meus sentidos
e eu ainda pensei que pudesse fugir
não pude dizer que não
a vida nos disse sim
como posso brigar com o tempo
se o vento soprou meus lamentos
e trouxe você pra mim

a leveza de outubro

não tenho tido tempo pra pensar no sim ou não
não tenho parado pra pensar o que é o toque, quando toco
o que sinto quando vejo

eu tenho ido
numa brisa leve em nuvem fofa

eu tenho ido
ao seu encontro sem pensar no que era antes

tenho tido
uma fluidez que não conheço

tô seguindo
como água doce que escorre mansa

tô sentindo
como criança pura em sol quente 

tô vivendo
sem pensar o que reservam os dias

nem torcendo pra que você esteja lá
porque eu sei
de um jeito louco eu sei 

é como se eu soubesse que você veio pra amaciar meu peito
amansar a fera
despistar a fuga que tenho feito dos sentidos

eu sinto 

e sei

que agora

a reciprocidade me abraça
e não me amedronta

boa noite de domingo

 Eu amo o seu abraço
que é como um laço 
que me contém 
e me expande

Eu amo seu cheiro
desde o amanhecer suado
até a noite de banho tomado
e pés frios com meias quentes

Eu amo seu sorriso
e suas gargalhadas 
que vibram em meu peito
e soam como sinfonia de Beethoven

Eu amo suas lágrimas (sagrada água salgada)
e a confiança do aconchego
que é meu peito molhados por elas

Eu amo sua presença
que transcende o físico
e como sinto sua alma junto a minha

Eu amo o jeito que você dança gostosinho
e como faz graça pra me ver sorrir

Eu amo sua espontaneidade
e como a gente ri das peripécias que vem junto com ela

Eu amo seu beijo
seu toque
e como nossos corpos se fundem
no fervor do amor ou no quente da conchinha

Eu amo nossos dias
e amo o fato de todas as manhãs 
olhar pra o lado e ver você
ali, aqui, comigo 

Eu amo nossa casa
e mais que a nossa casa
eu amo o lar que a gente vem construindo e que os alicerces 
de tudo são as coisas mais lindas e fortes que já existiu 

Eu amo você, Júlia

poema do invisível

 onde é que desliga a mente?
onde é que desliga o que a gente sente?|
me fiz essa pergunta algumas vezes

naqueles momentos onde o que a gente quer é pausar
você já teve o desprazer de não sentir nada?
nem luminoso, nem escuro, tudo cinza?
eu aprecio o breu e a luz
os dois tem a sua importância, a sua beleza
a apatia, pra mim, é o pior dos estados
ela não convida ninguém pra sentar e conversar
nem a si mesma
ela não gosta nem desgosta de café quente
desdenha duma xícara de chá
nem olha pra o bolo fresquinho na mesa posta com carinho
dispensa qualquer reunião com amigos regada a amor
a apatia não abraça nem a solidão
porque ela não é nem breu, nem luz
é um meio do caminho sem cor 
minto!
ela gosta da cama, do colchão e do nada
por mais que todo estado tenha importância 
esse, eu dispensaria
estar morna não me alimenta
pelo contrário, me tira a fome de tudo

a fuga

ela saciava seus anseios com a imaginação
a vida não sustentava seus desejos
gostava de sonhar e dormia com prazer
respirava aguardando ansiosamente a hora do sono
pois lá não precisava de nada além de si mesma
os sonhos continham todo o material que quisesse
mas não era isso que os tornava melhor que o real
nos sonhos ela se livra das cobranças mundanas que se faz todos os segundos
lá haviam todos os tipos de coisas palpáveis ou não
naquele lugar existia uma imensidão de ar
e quando faltava ela podia despertar
e ao abrir os olhos, fazia o novamente o exercício de viver
17.10.2017