domingo, 24 de novembro de 2013


cansei de ter calma
eu tenho alma
cansei de engolir a seco
quero que a saliva escorra guela a-fora
e que eu engula somente o que é doce

corpo preso 
onde não pode se render 
ahhh espontaneidade
pois é carcere dos ponteiros
digo que não me traio
era pra ser puro, pura mentira
traio-me 
dia-a-dia
hora-a-hora
a cada palavra que jogaria pra fora e seguro
a cada palavra que me é jogada pra dentro e engulo
a cada trocado que me compra as horas
e não me deixa vida
sou tempo
sou vento
findar
enfim
sou solta
loucura
agora
a mim

terça-feira, 30 de julho de 2013

vei mergulhar em si
vai mergulhar sem dó
o primeiro a submergir é a cabeça
o resto do corpo pode hesitar
mas quando chega até o peito
não tem jeito
mergulhado em-si-e-não-só
o coração estará

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Segunda-feira

Acordei com vontade de dormir
o dia estava frio
e meu corpo só se mantinha quente por conta das inúmeras cobertas que o envolvia

sorri com vontade de chorar
o dia estava frio
e meus lábios só se mantinham largos
porque se eu fosse lágrimas uma a uma congelaria
(meu rosto)

levantei com vontade de sentar
o dia estava frio
percebi que se levantasse teria que fazer tudo o que fosse preciso
e nada do que eu queria

estava cheia de coisas pra fazer
estava cheia de coisas a sentir
a tarde estava fria
e eu ainda não queria ter deixado as cobertas

conversa de quem não ama o sono
palavras de quem ama os sonhos
e não quer abrir os olhos com medo de esquecer
e quer abrir os olhos pra ver se consegue não lembrar
não lembrar de lembrar que sonhei com você
acordei, e você não estava lá







segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um conto

se eu dissesse que caminhei devagarinho
estaria mentindo
estava distraída ao ponto
de nem enxergar que havia um caminho pra nós dois
pra mim era amizade (o que já era bom)
e nada mais
a vida e suas voltas me surpreenderam
(mais uma vez)
e dessa vez
foi pra arrebatar
o coração

como se começa uma história de amor?
Era uma vez uma amizade
floriu, coloriu, desabrochou...


o menino da vila
(ressabiado com o amor)
a menina da praça da árvore, sem árvore
(nem flor)


ele disse a ela uma vez
como quem conta uma piada
- É menina, tem alguma coisa a mais entre a gente.
ela entendeu tudo, e quase nada
nessa noite se abraçaram com inocência
como quem tem amizade de criança
mas ele já tinha dado a deixa
ela guardou
(escondeu nas lembranças)

um dia como quem não quer nada
nada além de abraço
e ouvido bom de ouvir lamentação
ela que falava do coração ferido
abraçou o amigo e perdeu o chão
eles bebericaram
jogaram conversa fora
e junto toda aquela lamuriação
esqueceram o passado
viveram o momento
perderam a tal da "razão"

ela não podia ir pra casa
ele ofereceu leito e atenção
ela aceitou fingindo inocência
(já tinha fogo atiçando o coração)

ela deitou (calada)
ele deitou (também)
ela ficou ressabiada
com aquela barba
(e o que vinha além)
ele fez um cafuné
e pediu gentilmente um beijinho
ela disse: Não menino!
ele disse: Deixa... vou devagarinho.

ela então cedeu
a vontade que já tinha (contida)
ele beijou como prometeu
devagarinho com delicadeza
ela tremeu, mas continuou
(mesmo sem certeza)

ele como cavalheiro
convidou-a para a cama maior
ela negou com biquinho
de quem pede insistência
ele insistiu
ela quase pediu clemência

mais uma vez cedeu
aos encantos do belo rapaz
foi pra cama maior
(a moça já não era tão fugaz)

ali naquela noite os dois não tinham pretensão

ela queria pouco
ele quase nada

tudo era só de brincadeira
paixão?
Rá... era uma piada!

hoje conto essa história
feito narrador feliz
pois assisto os feitos do destino
não é como ele ou ela quis

eles não planejaram
mas a vida trouxe coisa melhor
o menino da vila
já não tinha medo do amor
a menina da praça da árvore, sem árvore
descobriu que era flor

eles começam agora
a caminhar juntos (de vez)
mais pra frente eu volto
pra contar as peripérsias
do danado destino, outra vez





















segunda-feira, 15 de abril de 2013

Descrito

Acorda com um sorriso acanhado
Me olha com olhar profundo
Quando estamos a sós, despeço-me do resto do mundo
Caminha com leveza
Como quem caminha sobre flores
Transpira vida em movimentos
Transborda em cores
De dia fala com calma
Em solos transcende a alma
A noite a risada é alta
Fala descontraída, feito criança em brincadeira
Com ela quero dias, noites e horas inteiras
Dorme feito princesa
Respira gostoso, sem nenhum barulinho
Sinto sua presença o dia todo
Depois de você, nunca mais fui sozinho
Inflama os sentimentos
Transpõe a intensidade
Se eu já te amava antes...
Imagine agora que passou a tempestade
Quero te ninar, e tirar todos os seus medos
Quero te ver dançar
Não terei tantos segredos
Eu vou te contar, e juro, não é brincadeira
No primeiro olhar, vi seu corpo dançar
O mundo é seu, minha pequena


... Eu quero tudo
Eu quero pouco
Eu quero mais e não demora
A vida que te trouxe
Que te carregue
Saudade se esvai
A partir de agora

Que de todo fim venha um lindo começo
Recomeço
Recoméço
Mereço





segunda-feira, 25 de março de 2013

A caixa e o buraco

eu ainda sinto falta dela...

do beijo
do cheiro
da chuva
da pele branca
da saia amarela

...ainda sinto falta dela

de esperar a chegada como criança
com ansia olhando pela janela
de banho tomado, cabelo penteado, dente escovado
perfumado
pronto pra receber o amor quem vem com ela

...sinto falta dela

das cores que se roçavam noite adentro
dos ruídos que vazavam quarto a fora
do suor e o findar do prazer que encharcavam os lençóis
a falta, e que falta de nós

...falta dela
falta ela
falta o lírio
cuidando da alfazema
falta um pedaço por dentro
falta um corpo no ninho
na verdade falta o dela
há tempos não durmo sozinho
mas a falta é só saudade
e a saudade é uma caixa de memória
que tapa o buraco que a falta faz no peito
com lembranças da nossa história



terça-feira, 19 de março de 2013

doou amor
dera o amor
quem dera o amor mudasse a nação
interroga o peito
pra ver se tem jeito
o que e a quem dará então?

teremos sol
traremos chuvas
se vão poluentes
vão entre nuvens
e bem baixinho
aos pés, nascentes

quisera o mar
olhar nadar
ar
areia escorre as mãos
jorrar segredos
sagrados medos
águas entoarão

se pede vento
e quer alento
peça contrário então
brisa no peito
cabelos que voam
sem vento
me esquentam, ou não

pontinho estreito
(estreito são meus olhos)
que vaza as brechas
pequena luz
grudou no breu
como vagalumes
enfeita e tanto
invés de ar, o céu

...










quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Um!

coração é desconhecido
amigo, o coração é amigo
ele bate sem cessar
sem pedir nem perguntar
porquê?
só bate, bate, bate... por você
palpitou por sentir
palpitou por não sentir mais
palpitou sozinho
coração sofreu
sem paz
o silêncio pairou
só podia ouvir as batidas
por dentro
no compasso
forte
sem mais sentir o peso
do seu corpo em peito
e seu coração colado ao meu
naquele momento
em mim só o silêncio
e não mais você e eu
nas batidas
meu silêncio
uníssono som
meus sonhos
o amor
não divido mais contigo
sua morada
seu abrigo
não sou eu mais quem dou
agora tenho a mim
meu coração
e em silêncio
meu amor









segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Segredo!

temo em manter-me por perto
tento afastar-me agora
não que eu não queira ficar
consigo ficar e manter-me assim
sem medo
a flor da-pele-amiga
tenra e quente
mas tenho pena
pena de deixar evaporar
o que um dia poderia fluir
e ser intenso
aos olhares e não só a pele
o único medo que me cabe
é repelir-te de mim
atenho-me aos gestos
atento-me a voz
quero esses olhares
pequenos e transparentes
pra mim
ao pensar assim posso dar um fim
então padeço
só o que peço é apresso
essa mútua ação
quando os braços envolvem
e me deita no peito
tem a mim
e ao meu coração





terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Talvez. Talvez, algum dia, faça sentido...


correndo da sensação
fugindo
olhos mareados
caindo
intensa vontade de se dar
e ver
tremendo querer
querer que tudo se dê
dê certo
ei de ter
viro do avesso
o peito
engolir a seco
gestos incabíveis
incabíveis modos
ao meu ver
mas meus olhos estão mareados
cheios de mar
não vejo direito
não ouço direito
penso com o peito
sem jeito
eu tenho o direito de sentir
sentir ainda vai me consumir
me atento
atento ao seu jeito de ser
me trava a garganta
soluços
a tempestade que cai
dos olhos
em meu rosto
ao peito
e seca
eu nunca estou seca
entreter meu pensamento com paz
esvair-se
fugir
fugaz
sentimento sem contento
como-entender-te?
como-entender-me?
como-entender-nos?
atenho-me aos gestos
olhar sexual
entendo-me com toques
te toco sem fim
ao mundo, a tudo, a mim
a ti, cabe dizer
a-mim-cabe-viver
sentir ambíguo querer
temo sei não o que
temo temer
desprender-me do apego, então
desato o nó no peito
mas não tem jeito
eu não tenho jeito
eu tenho sentimentos
eu tenho sentimentos
eu tenho-os sentido
aqui
dentro de mim
com um furacão no peito
me assumo
quero o sumo

quero líquido
quero rígido
quero cheiro
quero pecar-te
 então
quero pegar
quero comer
quero sucumbir
ao seu coração
e não mais ficar sem jeito
e não mais sentir invão
quero sentir o vão entre as suas
quero acabar com o vão entre nós