segunda-feira, 2 de julho de 2012

A carta

Eu achei que a compreensão ia além das minhas necessidades
Achei que todo o espaço que precisava era para respirar
Pensei que pudesse lidar com todos os problemas de nós dois
Abraçando os seus como se fossem meus
E escondendo os meus para não te pesar
Mas quando um escapou, você não soube como lidar
Quem nunca deu um abraço
Tão pouco tem vontade de abraçar
O tempo parava enquanto nos olhávamos
O tempo ruía o peito de saudade quando você cruzava a porta
Eu não pensei que fosse pra sempre
Mas senti que era por toda a vida ou boa parte dela
Não consigo olhar ao redor e achar beleza maior
Admiro até o seu jeito de caminhar
Suspiro ao lembrar o jeito que você me olhava
Com os olhos grandes, amendoados e brilhantes
Seu cheiro ainda está nos travesseiros
Que durmo ao lado sem encostar
Com medo de que a única lembrança palpável me fuja do alcance
É olhando sua foto que eu durmo
É relendo as mensagens de amor que me conforto
É sentindo o seu cheiro que faço a dor cessar por alguns segundos
E sei que é amor, porque quando sinto sua falta não lamento
E peço em minhas orações mais íntimas que você seja feliz
Quando sinto saudade agradeço por ter vivido um amor assim
Ainda que breve
Ainda que louco
Ainda que denso
Ainda que instável
O amor se manteve intacto

Assim como cada traço seu em minha memória

(Bethânia diz lindamente as palavras de Fernando Pessoa "Todas as cartas de amor são ridículas")



Um comentário:

  1. Coisa mais linda! O irmão de Bethânia também foi feliz quando escreveu:

    "Um amor assim delicado, você pega e despreza...Não devia ter despertado, ajoelha e não reza!"

    Beijos baianos!

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