sábado, 30 de julho de 2016

eu me calei
eu falei baixo
eu falei brando
eu disse
eu gritei
e você não ouviu meu grito de socorro
a cada esquina eu morro
a cada esquina chora Chica, Maria, chora Rita
tentei explicar pra você, rapaz
que de boa intenção o inferno tá cheio
minha feminilidade não te refere
o meu nú não te pertence
o meu corpo não te fere
o meu sexo não existe pra te servir
eu me mostro pra mim mesma
o seu "elogio" causa uma imensidão de atos
feito efeito dominó e cai sobre mim, sobre nós
sobre todas nós a cada passo
a rua também me pertence
eu sinto o que você sente
sou igual
entendeu não?
não trisca, não rela, não me Toque!
a menos que eu permita
a minha alma grita toda vez que uma mulher é violada
o feminismo não te odeia
o feminismo não te quer mal
o feminismo quer que morra toda essa cultura patriarcal
eu vivi até pouco numa prisão
com tantas mulheres aprendi que não preciso passar por humilhação
pelo que sou
pelo que sei
pela minha cor
pelo meu sexo
sexo frágil só na fragilidade da sua visão
ignora o movimento que eu faço no mundo
eu não te ameaço eu somo a tudo
e quando você some, sou eu que crio o novo mundo
com um pedaço do mundo dentro de mim
ainda sim consigo o sustento com suor do trabalho
a dor no pé na barriga
a barriga pesando as costas
enquanto nos olhos lágrimas
os seios jorrando leite
e eu limpando a sujeira que você deixou
enquanto você vai viver o mundo
eu crio um mundo inteiro dentro de mim
você não reconhece
a sociedade não reconhece
hoje reconheço a força que existe aqui
tenho uma legião de mulheres junto a mim
eu as reconheço, elas me reconhecem, nós reconhecemos na nossa luta
que há tantas décadas, apenas acabou de começar
.
minha eterna gratidão a todas as mulheres que me fazem sentir
que eu nunca estou sozinha





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